domingo, 12 de abril de 2009

1° Capítulo - Além do horizonte



No final dos anos 70, no sertão do Ceará, existia uma pequena vila pouco movimentada, onde só moravam algumas famílias que sofriam com a seca que assolava toda a região. Em um desses casebres em péssimas condições, onde o teto já estava quase caindo e as paredes cheias de rachaduras, morava a família Silva, composta pela mãe Dona Joana, uma mulata trabalhadora que ganhava a vida lavando roupa no riacho próximo para ajudar o marido Seu Amadeu, homem de fibra, que tentava colocar comida dentro de casa, fazendo bicos como pedreiro. O casal apesar de passar necessidades, era honesto, gostavam das coisas certas, tinham três filhos para o qual se orgulhar, Pedro de onze anos, moleque danado que ganhava uns trocados fazendo recados lá na venda ou ajudando as senhoras da vila a levar as compras para casa, não parava quieto em lugar algum e tinha pensamentos que ultrapassavam as fronteiras do horizonte, sonhava alto e fazia planos para o futuro, tinha um desejo secreto de ser médico para ajudar a família que estava em uma situação ruim, devido à falta de dinheiro, queria dar uma velhice confortável para os seus pais algum dia. Bentinho, de quatorze anos, muito precoce para a sua idade, se deixava vencer pela timidez e só falava o necessário, porém apesar de retraído, desde pequeno mostrara jeito com os números e era ele que o pai, que nunca tivera estudos, chamava para fazer alguma conta importante das despesas de casa. Por último havia Camila, uma garota meiga e encantadora, tinha olhos cor de mel e longos cabelos dourados, pele macia e muito humilde, sua formosura era apreciada por muitos e no auge dos seus 16 anos já tinha recebido inúmeros pedidos de casamento, porém foram todos rejeitados de imediato, por não conseguirem tocar seu coração. Ela não queria saber de namorar, era muito sonhadora acima de tudo, queria primeiro terminar os estudos para ser alguém na vida, e para isso ia todos os dias à noite a pé para a única escola das redondezas, que não tinha um bom ensino, mais com muito orgulho ela cursava o oitavo ano lá e já havia aprendido a ler. Trabalhava como doméstica na casa de Jurandir Pimentel, um rico coronel da região, que possuía belas fazendas e inúmeras cabeças de gado, era respeitado por todos. Era um típico conservador durão, tudo o que ele falava tinha que ser obedecido logo, e ai daquele que se opusesse a uma palavra sua. Era casado com Dona Maria do Carmo, um bondosa senhora que tinha Camila como uma filha, era cheia de cuidados para com ela e a ajudava nos estudos nas horas vagas, pedia sempre para que a moça a chamasse de madrinha, pois sofria muito com a ausência de seu único filho Hugo, que vendo estar gastando sua vida com a bebida e mulheres tempos atrás, mandara estudar advocacia no exterior. Dona Do Carmo passava as tardes a fazer belos bordados em seus vestidos de cetim e Camila depois de terminar o serviço, sentava-se ao seu lado em um banquinho e ficava ouvindo-a cantar, aquelas músicas de amor a faziam pensar em como seria esse sentimento, ela viajava sonhando encontrar um príncipe de verdade, o que seria impossível já que nunca ultrapassava as cercas da vila, porém não custava sonhar.

- Você está pensando em quê, Camila? Perguntou Dona Do Carmo enquanto a moça se mantinha de olhos fechados, dispersa em seus pensamentos.

- Osh, a senhora me desculpe patroa. É que tens uma voz tão bonita, estava a viajar pelos meus pensamentos, coisa mais linda essa música.

- É no meu tempo de juventude a música tinha composições feitas com muita emoção, essa, por exemplo, foi a que tocou no baile em que conheci o Jurandir, ele cantou apenas um trecho em meu ouvido e eu já estava apaixonada. Daí para o casamento foi um pulo, o fato das nossas famílias serem amigas, ajudou bastante.

- Você o ama muito, não é madrinha?

- Muito, ele foi o único homem da minha vida, desde que bati os olhos nele, percebi que era com aquele sujeito com aparência de bravo, que eu iria querer passar o resto dos meus dias. E acho que consegui colocar rédeas nele direitinho.

- Deve ser muito lindo amar e ser amada.

- E é filha, é o maior presente que um ser humano pode querer e não há dinheiro que compre, é como se já estivesse predestinado antes mesmo de nascermos, é algo tão mágico. Mais não fique com essa carinha emburrada minha afilhada, um dia você irá encontrar sua metade da laranja também, acredite em mim. Chega quando você menos esperar, você vai ver. Olha só a hora, você vai perder a aula, menina. Se apresse para chegar em casa e se aprontar para a aula, lembre-se que sem conhecimento, não há futuro. Mande um abraço para a sua mãe e diga para que venha tomar um chá comigo qualquer dia desses.

- Ta certo, madrinha, já vou, Bênção!

- Deus te abençoe e vá contigo, te espero amanhã cedo, e à tardinha conversaremos mais.

Então Camila se dirigiu ao portão e foi a caminho de sua casa quase correndo por aquele chão vermelho e com o sol a corar-lhe as têmporas, pensando nas palavras da madrinha, estava começando a reinar nela uma vontade de conhecer todos os segredos que o amor poderia proporcionar. Tinha receio de nunca encontrar ninguém do seu agrado, mais o que ela não sabia, era que iria receber a visita desse sentimento, antes mesmo do que pensava…

2 comentários:

Maciel Junior disse...

Gostei...interessante a forma como você faz toda a descrição do ambiente...uma ótima historinha made in woman...parabéns!

Homer Simpson disse...

São nos momentos de ausência que vemos o quanto nos faz falta aquele carinho
que antes pouco importava"

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